1.07.2005
A Alegoria do Paraíso
É verdade o que se diz sobre o conhecimento e a felicidade. Realmente quanto mais possuímos do primeiro menos conseguiremos do segundo. A sapiência não nos torna impotentes, mas torna-nos auto-conscientes da nossa fatídica impotência perante a inevitabilidade dos acontecimentos, perante a mudança e a imutabilidade. E a depressão é a raiva interiorizada consequente.
Não é por acaso que a melhor alegoria que ilustra esta dicotomia é a do Paraíso. E a queda aí narrada no precipício do além-éden é meramente a compreensão do real. A maçã de Adão ainda hoje confere ao Homem a voracidade original pelo “pecado” do conhecimento.
O Paraíso, assim entendido, sem o dogmatismo da ortodoxia, assemelha-se em termos simbólicos a outra alegoria: a platónica. Sem a clarividência, o mundo é percepcionado de forma sombria, tudo é oculto. Mas enquanto na Alegoria da Caverna essa sombras são cruelmente assombrosas, na alegoria do Paraíso são-o agradavelmente, pois o assombro é o maravilhamento constante pelos fenómenos transcendentes da natureza. As sombras só se tornam cruéis quando para além da simples contemplação, existe a vontade de conhecer o seu motivo. E aí, o conhecimento fracturadíssimo de que algo eternamente inalcançável existe para além do que é percepcionado, subverte.
A alegoria do Paraíso é consequentemente um lúcido elogio da ignorância. E o fatalismo moral desta história ensina algo extremamente translúcido acerca de uma das poucas verdades universais. A existência humana será sempre um percurso ambíguo, polarizado pela procura irracional da ilusão do entendimento e pela consciência natural de que todo o entendimento se resume no nihilismo das origens. A existência é, sem dúvida a construção redundante e trágica de utopias. Por um lado, a utopia do divino, que nos impele a perseguir o objectivo gnóstico da totalidade; por outro, a utopia existencialista do “bom selvagem”, cuja sedução nos remete à infância histórica e ao mito da inocência perdida. Somos, nestes cânones, simultaneamente, de uma imensa soberba e uma intensa humildade. E penso que é esse desejo inato de sublimação que nos define de uma forma absurda.
Não é por acaso que a melhor alegoria que ilustra esta dicotomia é a do Paraíso. E a queda aí narrada no precipício do além-éden é meramente a compreensão do real. A maçã de Adão ainda hoje confere ao Homem a voracidade original pelo “pecado” do conhecimento.
O Paraíso, assim entendido, sem o dogmatismo da ortodoxia, assemelha-se em termos simbólicos a outra alegoria: a platónica. Sem a clarividência, o mundo é percepcionado de forma sombria, tudo é oculto. Mas enquanto na Alegoria da Caverna essa sombras são cruelmente assombrosas, na alegoria do Paraíso são-o agradavelmente, pois o assombro é o maravilhamento constante pelos fenómenos transcendentes da natureza. As sombras só se tornam cruéis quando para além da simples contemplação, existe a vontade de conhecer o seu motivo. E aí, o conhecimento fracturadíssimo de que algo eternamente inalcançável existe para além do que é percepcionado, subverte.
A alegoria do Paraíso é consequentemente um lúcido elogio da ignorância. E o fatalismo moral desta história ensina algo extremamente translúcido acerca de uma das poucas verdades universais. A existência humana será sempre um percurso ambíguo, polarizado pela procura irracional da ilusão do entendimento e pela consciência natural de que todo o entendimento se resume no nihilismo das origens. A existência é, sem dúvida a construção redundante e trágica de utopias. Por um lado, a utopia do divino, que nos impele a perseguir o objectivo gnóstico da totalidade; por outro, a utopia existencialista do “bom selvagem”, cuja sedução nos remete à infância histórica e ao mito da inocência perdida. Somos, nestes cânones, simultaneamente, de uma imensa soberba e uma intensa humildade. E penso que é esse desejo inato de sublimação que nos define de uma forma absurda.
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