2.20.2005
Os Cinco Pecados Sensoriais
Isto poderá parecer contraditório, mas se queremos resolver os problemas do mundo, devemos pensar em nós próprios.
É a minha sincera opinião. Não me interpretem mal, não estou a fazer a apologia do egocentrismo, porque isso é pura e simplesmente hedonismo. O que defendo é um retorno a um culto do Eu helénico. Um retorno a uma religião em que a igreja é o corpo humano, a alma e a mente. Convertermo-nos a essa causa será ponderar o nosso papel no mundo, na procura alquímica da pedra filosofal. Temos de pensar em nós como um elo na corrente natural, porque isso é o que somos: um elemento da equação existencial tão importante quanto a chuva, o céu, a planta, o pó. Dentro desse ecossistema, devotarmo-nos a um auto-aperfeiçoamento só contribuirá para a perfeição, harmonia e equilibrio do sistema.
A questão ecológica é o exemplo perfeito, embora esta filosofia seja tão válida para este caso como para todos os flagelos da humanidade, ou não fosse a base de qualquer religião o amor-próprio e pelo próximo. A poluição que produzimos, os danos que causamos ao ambiente, prejudicam o mundo tanto quanto nos prejudicam a nós. Hoje em dia, incineramos o olfacto com tabaco e canos de escape; poluímos o paladar com açúcares ao ponto de já nem saborearmos; deixamos a visão decompôr-se em frente a ecrâns; enfraquecemos a audição com auscultadores e décibeis urbanos; alienamos o tacto com teclados, telemóveis, ou mesmo meras canetas, como se as mãos nada mais sejam que ferramentas numa linha de montagem, reduzidas a meros cabos com que nos ligamos aos objectos para podermos funcionar; numa sociedade em que comunicamos cada vez mais com máquinas do que com pessoas.
Caminhamos para a apatia sinestésica, para uma condição vegetal, rodeados de tecno-fungos em não-lugares. O paranormal somos nós, alienígenas neste planeta. Desligados de tudo, incluindo de nós mesmos, avançamos para longe de tudo o que é humano.
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