AUTOCRACIA

1.16.2005

Antropocentrismo Evolucionista


A dialética entre “Creacionismo e Evolucionismo” é profusa e não enveredarei por aí, embora mereça ser evocada a incógnita. Para quem desconhece aconselho a ler o tópico sobre esse assunto antes deste.
Pessoalmente, encaro a Teoria da Evolução com o mesmo distanciamento com que leio sobre os manuscritos de Nag-Hammadi, sobre o Santo Graal, ou qualquer outra fábula. Não quero com isto parodiar a “Evolução das Espécies”. Sou apenas tão céptico perante esta quanto perante qualquer outra teoria e sirvo-me dela, menos para legislar sobre a causalidade, do que para sonhar sobre as implicações. E este tópico é um exercício de liberdade especulativa sobre um assunto não mais concreto.
Deparo-me com certas considerações na Teoria da Evolução que pressupõem um ponto de partida pouco isento. Muito à semelhança do que o heliocentrismo de Copérnico obstou contra as convenções teocráticas da altura, a Teoria da Evolução das Espécies de Darwin afigura–se-me imbuída de um antropocentrismo igualmente contemporâneo. Refiro-me ao posicionamento deliberado e infudamentado da espécie humana no topo do género primacial. Não há qualquer indicador de que o Homem se insira num degrau evolutivo superior ao do chimpanzé (por exemplo). À parte o tamanho do nosso cérebro, é pelo contrário o símio que apresenta na sua fisiologia mais indicadores de uma melhor adaptação ao meio ambiente.
Sendo o planeta um meio aquático numa primeira fase da evolução e tendo toda a vida originado desse meio, é comummente aceite que descendemos do peixe e do primeiro réptil que abandonou as águas para se firmar na terra.
Dentro dessa lógica, a espécie humana, numa primeira análise, revela-se consideravelmente mais dependente do elemento primordial, quando comparada com outros primatas.
Senão vejamos, desde que o Homem se tornou sedentário, todas as populações se fixaram junto a rios e mares. Isto parece pouco, uma vez que todos os mamíferos dependem de uma forma ou de outra de leitos de água doce para a sua sobrevivência, mas a nossa relação com a água é bastante mais anfibiótica do que biológica. A forma como vivemos com esse elemento é quase hipopotâmica. Há, no entanto, razões bem mais notáveis que justificam esta hipótese – razões fisiológicas. Se analizarmos a anatomia dos restantes primatas em comparação com a anatomia humana, estes parecem fisicamente melhor adaptados ao meio terrestre do que nós. A pele humana, quase totalmente desprovida de pêlo, revela um laço assaz mais próximo com mamíferos marinhos do que com terrestres. Os pés mal articulados e em notória inferioridade evolutiva perante os símios, são mais consistentes com a fisionomia de uma barbatana do que com uma mão…
Penso que já seria suficientemente chocante para os cânones gnosiológicos da época de Darwin avançar com a hipótese de aparentamento com o símio, não seria possível aceitar que, em termos evolutivos, os demais primatas tivessem subido uma maior quantidade de degraus.
Na minha opinião, isto aconteceu porque enquanto espécie tivemos outras ferramentas que nos permitiram alcançar uma posição favorável na cadeia alimentar e aumentaram tremendamente as nossas hipóteses de sobrevivência (e mesmo de supremacia predatória). Sem dúvida graças ao maior salto evolutivo que nos distancia dos restantes primatas – o cérebro – fomos capazes de desenvolver uma linguagem que nos habilitou a acções de grupo organizadas muito úteis na caça. A descoberta do fogo, o manuseamento de utensílios, etc, foram os substitutos para uma adaptação puramente fisiológica.
O facto de o Homem ter escolhido grutas para se resguardar numa fase incial de existência não me parece casual. É bem provável, admitida a hipótese que proponho, que tenhamos herdado esse hábito dos primeiros anfíbios numa altura em que muitas grutas (originalmente sub-aquáticas) ficaram acima do nível das águas.
Adverti, no princípio deste texto, as minhas reservas em relação à Teoria da Evolução e não espero portanto que as conjecturas aqui elaboradas sejam encaradas demasiado a sério. Só desejo que sirvam para questionar aquilo que muitas vezes nos acomodamos a considerar como real e verdadeiro, porque até a matemática é discutível.

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